Publicado em 28/09/11 às 12h10
Por  que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma  homenagem da instituição?
Começa  assim, acreditem, com esta pergunta indecorosa, a entrevista de Deborah  Berlinck, correspondente de "O Globo" em Paris, com  Richard Descoings, diretor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o  Sciences- Po, que entregou o título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente  Lula, na tarde desta terça-feira.
Resposta  de Descoings:
"O  antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande  acadêmico (...) O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que  mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil  se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso  nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences- Po, a de  que o mérito pessoal não deve vir somente do diploma universitário. Na França,  temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O  presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela  universidade".
A  entrevista completa de Berlinck com Descoings foi publicada no portal de "O  Globo" às 22h56 do dia 22/9. Mas a história completa do vexame que a imprensa  nativa sabuja deu estes dias, inconformada por Lula ter sido o primeiro  latino-americano a receber este título, que só foi outorgado a 16 personalidades  mundiais em 140 anos de história da instituição, foi contada por um jornalista  argentino, Martin Granovsky, no jornal Página 12.
Tomei  emprestada de Mino Carta a expressão imprensa sabuja porque é a que melhor  qualifica o que aconteceu na cobertura do sétimo e mais importante título de  Doutor Honoris Causa que Lula recebeu este ano. Sabujo, segundo as definições  encontradas no Dicionário Informal, significa servil, bajulador, adulador,  baba-ovo, lambe-cu, lambe-botas, capacho.
Sob  o título "Escravocratas contra Lula", Granovsky relata o que aconteceu durante  uma exposição feita na véspera pelo diretor Richard Descoings para explicar as  razões da iniciativa do Science- Po de entregar o título ao ex-presidente  brasileiro.
"Naturalmente,  para escutar Descoings, foram chamados vários colegas brasileiros. O professor  Descoings quis ser amável e didático (...). Um dos colegas perguntou se era o  caso de se premiar a quem se orgulhava de nunca ter lido um livro. O professor  manteve sua calma e deu um olhar de assombrado(...).
"Por  que premiam a um presidente que tolerou a corrupção", foi a pergunta seguinte. O  professor sorriu e disse: "Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra  em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o julgamento da  História este assunto e outros muito importantes, como a eletrificação das  favelas em todo o Brasil e as políticas sociais" (...). Não desculpamos, nem  julgamos. Simplesmente, não damos lições de moral a outros países.
"Outro  colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa de Lula era parte da  ação afirmativa do Sciences Po. Descoings o observou com atenção, antes de  responder. "As elites não são apenas escolares ou sociais, disse. "Os que  avaliam quem são os melhores, também. Caso contrário, estaríamos diante de um  caso de elitismo social. Lula é um torneiro-mecânico que chegou à presidência,  mas pelo que entendi foi votado por milhões de brasileiros em eleições  democráticas".
No  final do artigo, o jornalista argentino Martin Granovsky escreve para vergonha  dos jornalistas brasileiros:
"Em  meio a esta discussão, Lula chegará à França. Convém que saiba que, antes de  receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos  elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se  por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. No  Brasil, a Casa Grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terra e  escravos. Assim, Lula, silêncio por favor. Os da Casa Grande estão  irritados".
Desde  que Lula passou o cargo de presidente da República para Dilma Rousseff há nove  meses, a nossa grande imprensa tenta jogar um contra o outro e procura detonar a  imagem do seu governo, que chegou ao final dos oito anos com índices de  aprovação acima de 80%.
Como  até agora não conseguiram uma coisa nem outra, tentam apagar Lula do mapa. O  melhor exemplo foi dado hoje pelo maior jornal do país, a "Folha de S. Paulo",  que não encontrou espaço na sua edição de 74 páginas para publicar uma mísera  linha sobre o importante título outorgado a Lula pelo Instituto de Estudos  Políticos de Paris.
Em  compensação, encontrou espaço para publicar uma simpática foto de Marina Silva  ao lado de Fernando Henrique Cardoso, em importante evento do instituto do mesmo  nome, com este texto-legenda:
"AFAGOS  - FHC e Marina em debate sobre Código Florestal no instituto do ex-presidente; o  tucano creditou ao fascínio que Marina gera o fato de o auditório estar  lotado".
Assim  como decisões da Justiça, criterios editoriais não se discute, claro.
Enquanto  isso, em Paris, segundo relato publicado no portal de "O Globo" pela  correspondente Deborah Berlinck, às 16h37, ficamos sabendo que:
"O  ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido com festa no Instituto de  Estudos Políticos de Paris - o Sciences- Po _, na França, para receber mais um  título de doutor honoris causa, nesta terça-feira. Tratado como uma estrela  desde sua entrada na instituição, ele foi cercado por estudantes e, aos gritos,  foi saudado. Antes de chegar à sala de homenagem, em um corredor, Lula ouviu,  dos franceses, a música de Geraldo Vandré, "para não dizer que eu não falei das  flores.
"A  sala do instituto onde ocorreu a cerimônia tinha capacidade para 500 pessoas,  mas muitos estudantes ficaram do lado de fora. O diretor da universidade,  Richard Descoings, abriu a cerimônia explicando que a escolha do ex-presidente  tinha sido feita por unanimidade".
Em  seu discurso de agradecimento, Lula disse:
"Embora  eu tenha sido o único governante do Brasil que não tinha diploma universitário,  já sou o presidente que mais fez universidades na história do Brasil, e isso  possivelmente porque eu quisesse que parte dos filhos dos brasileiros tivesse a  oportunidade que eu não tive".
Para  certos brasileiros, certamente deve ser duro ouvir estas coisas. É melhor nem  ficar sabendo

 
 

